segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quando saí

Quando saí
Acendi um fósforo no ventre. Por dentro. A luz passava por tudo e eu olhava e eu era oca. Sentei do lado do sofá me fiz abajur. Meu filho estirado, com as pernas no braço (do sofá) me leu um trecho do livro em suas mãos. Meu marido chegou e, como era de madrugada, dava passos silenciosos pra não me acordar. Apagada, não me viu na sala, não me deu boa noite, e foi deitar. Acendi um fósforo na boca. Por dentro. A luz passava, passava por tudo, incendiou meu cabelo e me fez loira. Finalmente. Fiz um coque loiro e fui dar uma volta. Nunca antes tive coragem de sair a uma hora dessas sem calcinha, sem roupa, sem nada. Não sabia que suor alimentava fogo, mas foi assim que passei pela noite, toda branca, toda suada e toda acesa. O fogo em minha cabeça me levou até a praia. Não sei que dia era, não sei em que lua estava, só sei que vi mais 30 mulheres de fogo chegando juntas com seus pés na areia escorrendo suor. O fogo parou desatando os nós dos cabelos e fazendo os cabelos caírem pesados. A água do mar estava calma ou ficou calma quando a gente chegou. Banho. A gente nadava, a gente sorria, a gente boiava com a xoxota pro céu e os seios cada um para um lado. Quando fui sair vi que éramos umas mil na água. Saí sozinha como cheguei. Mas quando saí


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Entre Mulheres

Entre Mulheres é o meu primeiro livro da editora Giostri. Leiam!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

conto: a porta

junho passado abri a porta da geladeira.
em dezembro fiz uma limpeza e tornei a deixar arejando, pra não ficar aquele futum.

os lençois empoeirados joguei fora e com os novos vesti o sofá-cama.
queria que os móveis fossem junto com os lençois mas não é assim.

à noite, só dormi de exaustão.
antes cismei que aquela porta ia abrir com a minha tia defunta lá me olhando.

achei que meu gato me ajudaria a dormir mas seria muito trabalhoso transportá-lo de avião.
merda de apagão. Justo agora. Petrifiquei.

esta já é a segunda noite. Resolvi ser esperto e dormir do outro lado daquela porta, dentro do quarto.
teria que valer à pena. E valeu. Pra minha tia, claro, que conseguiu me dar um recado.

nunca suei tanto. Apagão é isso aí. Malditos filhos da puta com ar condicionado, que sobrecarregam o sistema de distribuição de energia, e fazem o único ventilador xexelento desligar bem na hora do sobrenatural acontecer.

quase fui dormir na portaria. Se tivesse porteiro, eu dormia. Que bom que celular tem carga e eu pude fazer uma ligação.
não sabia de ninguém que pudesse àquela hora ir dormir comigo. Então, liguei pra uma puta. Claro, quem mais viria, assim, sem que eu precisasse explicar.

aí, danou-se. Porque a puta chegou. E a puta era linda, tão linda que eu tive que dividir meu sofá-cama com ela.
Tenho a impressão que em algum momento vi titia praticando voyerismo. Não sei bem.

em tempo, o recado:
"desta vez, quando sair, feche a porta da geladeira que a luzinha não tá me deixando dormir."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010