quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

conto: a porta

junho passado abri a porta da geladeira.
em dezembro fiz uma limpeza e tornei a deixar arejando, pra não ficar aquele futum.

os lençois empoeirados joguei fora e com os novos vesti o sofá-cama.
queria que os móveis fossem junto com os lençois mas não é assim.

à noite, só dormi de exaustão.
antes cismei que aquela porta ia abrir com a minha tia defunta lá me olhando.

achei que meu gato me ajudaria a dormir mas seria muito trabalhoso transportá-lo de avião.
merda de apagão. Justo agora. Petrifiquei.

esta já é a segunda noite. Resolvi ser esperto e dormir do outro lado daquela porta, dentro do quarto.
teria que valer à pena. E valeu. Pra minha tia, claro, que conseguiu me dar um recado.

nunca suei tanto. Apagão é isso aí. Malditos filhos da puta com ar condicionado, que sobrecarregam o sistema de distribuição de energia, e fazem o único ventilador xexelento desligar bem na hora do sobrenatural acontecer.

quase fui dormir na portaria. Se tivesse porteiro, eu dormia. Que bom que celular tem carga e eu pude fazer uma ligação.
não sabia de ninguém que pudesse àquela hora ir dormir comigo. Então, liguei pra uma puta. Claro, quem mais viria, assim, sem que eu precisasse explicar.

aí, danou-se. Porque a puta chegou. E a puta era linda, tão linda que eu tive que dividir meu sofá-cama com ela.
Tenho a impressão que em algum momento vi titia praticando voyerismo. Não sei bem.

em tempo, o recado:
"desta vez, quando sair, feche a porta da geladeira que a luzinha não tá me deixando dormir."