segunda-feira, 8 de junho de 2015

Quando saí

Quando saí
Acendi um fósforo no ventre. Por dentro. A luz passava por tudo e eu olhava e eu era oca. Sentei do lado do sofá me fiz abajur. Meu filho estirado, com as pernas no braço (do sofá) me leu um trecho do livro em suas mãos. Meu marido chegou e, como era de madrugada, dava passos silenciosos pra não me acordar. Apagada, não me viu na sala, não me deu boa noite, e foi deitar. Acendi um fósforo na boca. Por dentro. A luz passava, passava por tudo, incendiou meu cabelo e me fez loira. Finalmente. Fiz um coque loiro e fui dar uma volta. Nunca antes tive coragem de sair a uma hora dessas sem calcinha, sem roupa, sem nada. Não sabia que suor alimentava fogo, mas foi assim que passei pela noite, toda branca, toda suada e toda acesa. O fogo em minha cabeça me levou até a praia. Não sei que dia era, não sei em que lua estava, só sei que vi mais 30 mulheres de fogo chegando juntas com seus pés na areia escorrendo suor. O fogo parou desatando os nós dos cabelos e fazendo os cabelos caírem pesados. A água do mar estava calma ou ficou calma quando a gente chegou. Banho. A gente nadava, a gente sorria, a gente boiava com a xoxota pro céu e os seios cada um para um lado. Quando fui sair vi que éramos umas mil na água. Saí sozinha como cheguei. Mas quando saí